SONETOS - Quatro anos, cinquenta sonetos.

Escrevi setenta sonetos em quatro anos, eliminei certa parte e, em 2006, publiquei cinquenta.
Vários leitores, curiosos e outros indagaram-me a respeito da feitura dos sonetos e também dos motivos que levaram-me a produzi-los.
Este espaço pré-existia ao lançamento do livro e tornou-se então o lugar ideal para a satisfação dos leitores mais afoitos.
Há uma possibilidade gigantesca de eu voltar a produzir neste formato encantador e em desuso. Justamente este: o desuso, é o aspecto que mais encanta-me na literatura.

Forte abraço.

Marcelo Finholdt - março de 2010

terça-feira, 13 de dezembro de 2005

SONETO III




A casinha é laranja e tem brancas janelas,
É um laranja bem forte a ascender todo o astral...
Na varanda há um vazio, um vazio sem igual,
Lá um alguém existiu, com uma face tão bela...


Existiu uma moça amorosa e singela,
Inocente donzela a avançar sem o mal,
Na procura do amor, coisa tão natural,
Deixou logo seu manto ao mostrar quem é ela.


No jardim desta casa, a menina está a ler,
Uns poemas de amor junto a seis margaridas,
Ela espera um poeta anunciar que vai ter,


Uma vida esculpida onde não há ferida.
A menina ainda lê e o poeta é esse ser,
Que faz ela existir, pois também vê a vida!





Existem situações inusitadas e, aparentemente simples, porém de explicação um tanto complexa, espiritual, anímica...
O caso da “casinha laranja” é um exemplo que até poderia passar desapercebido, mas, eu jamais poderia permitir tal fato e, é exatamente por tais fatos existirem que este texto existe, minha poesia, e este blog também. Sempre fui admirador da natureza, por isso, nas cidades, vejo as praças como verdadeiros oásis, sempre meus trajetos são construídos com o propósito, óbvio, de chegar ao destino desejado, mas, também com o intuito de passar por todas as praças possíveis. Calhou certa vez, de eu estar mesmo viciado a passar pela praça da Bandeira, em Barretos – SP, onde, logo ali pela esquina, sito à avenida dezenove, esquina com a rua seis, avistei uma singeleza da arquitetura, uma cor forte, forte... não pela tinta, mas sim pela energia que transmitia aos meus olhos, e conseqüentemente ao meu espírito. Forte cor laranja, janelas, portas e enfeites brancos, arquitetura antiga e a tal energia. Como era bom parar pela sua frente por alguns segundos, e olhar, olhar, olhar e olhar... olhei e jamais vi alguém na “casinha laranja”, que possui uma varanda de aspecto aconchegante, mas muito triste, muito triste mesmo, talvez por eu jamais ter visto alguém ali, com os braços na mureta, ou sentado em suas cadeiras, etc. Fiquei inconformado e passei a passar mais por ali, passei a enxergar uma figura feminina e inocente, talvez uma pré-adolescente ali na varanda. Um dia esbocei o soneto acima, mas a menina continuava a incomodar e eu não sabia de onde isso vinha. Parecia ser uma criança solitária, sem companhia, sem amigos, família... Finalmente, num belo dia, lá pelas redondezas da pracinha e da tal “casinha laranja”, percebi tudo... como estavam aguçados os meus sentidos.
Fiquei impressionado comigo, com minha sensibilidade, e, ao mesmo tempo com minha distração. Percebi simplesmente que: Em frente a casinha laranja há o orfanato “Sagrado Coração de Jesus”, justamente onde ficam abrigadas meninas abandonadas, órfãs. A priori nem sequer percebi, mas, logo após, enxerguei o que havia feito, e nunca mais duvidei da existência da energia poética que habita pessoas, lugares, situações, etc, visto que jamais existiu alguma menina ali, naquela varanda citada no soneto. Não que eu tenha visto.



Um abraço de Marcelo Finholdt.

2 comentários:

  1. e ai pro!!!!
    sou eu
    nao li muito seu blog mas gostei
    eh tudo kawaii^-^

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