SONETOS - Quatro anos, cinquenta sonetos.

Escrevi setenta sonetos em quatro anos, eliminei certa parte e, em 2006, publiquei cinquenta.
Vários leitores, curiosos e outros indagaram-me a respeito da feitura dos sonetos e também dos motivos que levaram-me a produzi-los.
Este espaço pré-existia ao lançamento do livro e tornou-se então o lugar ideal para a satisfação dos leitores mais afoitos.
Há uma possibilidade gigantesca de eu voltar a produzir neste formato encantador e em desuso. Justamente este: o desuso, é o aspecto que mais encanta-me na literatura.

Forte abraço.

Marcelo Finholdt - março de 2010

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

BACANTES, BACO E AS BACANAIS






por Marcelo Finholdt

Era o Éter da vela estendida entre os céus
Que explicava o porquê desta bela folia:
Entre as velas de cor, entre os vinhos gemia
E sentia prazer sem sequer ver-se em véus!

Ela estava sedenta e pedia mais mel,
Hora não existia: era noite e era dia
Era dia e era noite ela sempre insistia
E deus Baco espiou, entregou o anel.

Era a Ninfa fogosa e evitava falar
Dos aromas sutis, da paleta de cores.
Era azul, era verde e era o céu todo o mar.

Essas flores, sabor; esse odor com olores
Excitava e instigava o total paladar
E esses polens no mel fecundavam mais flores.


  


quinta-feira, 14 de março de 2013

SEMENTES




Era um dia nublado e o passado passava
Entre o hoje e invadia o futuro dos dias
Mesmo assim poesia insistia, queria
Mais do dia, da Lua e do Sol que dourava.

Era um dia insistente, um passado presente
Entre os dias assim: já sem cores, sem tom
Mesmo estranho e sem cor, sem sabor e sem som
Mais do antigo, do velho e do arcaico insistente.

Este ranço, esta nódoa abraçava a poesia
Mesmo assim pegajosa agradava, enjoava,
Revirava, azedava, espumava, era azia.

Este nojo, esta caca explodia e rimava,
Mesmo assim melecava e lustrava; fedia,
Ressecava, sumia e outro mundo gerava.   

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

CANTO I



Por Marcelo Finholdt

Juntamente ao poente insistente: um soneto...
Logo o céu azulava e estrelava o luar,
O mar verde arrostava uma face estelar:
Era... Ela presente entre os dois, magneto!

Logo, logo surgia a maior maresia,
O horizonte embaçava assim mesmo distante,
Era... Ela presente entre nós, bem constante!
Certamente sabia admirar poesia.

O céu firme ao luar ostentava as estrelas,
Era... Ela presente entre o éter de perto!
Firmemente podia enxergar sem retê-las.

Era... Ele presente entre os sonhos despertos!
Novamente estendia o seu som para tê-las:
Logo, logo sentia o amargor de um acerto.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

SONETO AOS VENTOS



Por Marcelo Finholdt

Só a tormenta do mar forma bons marinheiros.


Ondas vem, ondas vão pelo meu pensamento,
Penso longe demais pois enxergo distante.
Distancio-me sempre incoerente e inconstante...
Inconstante, insistente arrostando o momento.

Ondas vem, ondas vão pelo meu sofrimento,
Sofro pouco portanto inaltero o semblante,
Meu semblante é inocente, atraente, de infante;
Infantil, sonhador, brincalhão e birrento.

Ondas vem, ondas vão pelo meu argumento,
Argumento c'o vento: (Ó momento brilhante!)
Brilha o sol, brilha o mar gira o mundo bem lento.

Ondas vem, ondas vão pelo meu vil contento,
A contento do vento ofereço este instante,
Este instante de infante aloprado, sangrento!

sexta-feira, 1 de abril de 2011

SONETO XXV


Por Marcelo Finholdt

"S.o.s., s.o.s., s.o.s., s.o.s.,"
Momento de grande depressão...

S.o.s., s.o.s., s.o.s., s.o.s.,
S.o.s., s.o.s., s.o.s., s.o.s.,
S.o.s., s.o.s., s.o.s., s.o.s.,
S.o.s., s.o.s., s.o.s., s.o.s.,

S.o.s., s.o.s., s.o.s., s.o.s.,
S.o.s., s.o.s., s.o.s., s.o.s.,
S.o.s., s.o.s., s.o.s., s.o.s.,
S.o.s., s.o.s., s.o.s., s.o.s.,

S.o.s., s.o.s., s.o.s., s.o.s.,
S.o.s., s.o.s., s.o.s., s.o.s.,
S.o.s., s.o.s., s.o.s., s.o.s.,

S.o.s., s.o.s., s.o.s., s.o.s.,
S.o.s., s.o.s., s.o.s., s.o.s.,
S.o.s., s.o.s., s.o.s., s.o.s. ...

domingo, 4 de abril de 2010

SONETO XVII



Por Marcelo Finholdt

“O caminho é um brilhante alumiado por ela,”
Dedicado à Ana Luisa Calil Perroni,
uma bela mulher, uma grande amiga.



Lá se vai, outra vez, essa Lua ao caminho...
O caminho é um brilhante alumiado por ela,
Ela sabe que faz muita falta e é singela
Tão singela ao esquecer seu imenso carinho.

Seu carinho é sem senso e possui muito espinho,
Há um espinho no peito onde há rosa amarela,
Amarela é essa Lua a fazer tal tabela,
E a tabela com a Lua é instigante com vinho...

É com vinho que é feito o soneto da Lua,
Sob a Lua se faz poesia e saudade...
Com saudade produz-se a poesia mais nua!

Vejo - a nua no céu a trazer ansiedade,
A ansiedade é o que torna a saudade mais crua,
Crua e cheia de espinho a espetar a vontade!

quarta-feira, 24 de março de 2010

SONETO XXII



Por Marcelo Finholdt

"Nossa vida se pede, outra vida concede,"
Inspirado em entrevista de Carlos Drummond de Andrade,
concedida ao programa "Conexão Roberto D'Ávila" - 1984.


Nossa vida quer mais, nossa vida só pede,
Nossa vida é uma vida esculpida nas vidas!
Nossa vida quer mais é curar as feridas,
Nossa vida não tem um lugar, uma sede!

Nossa vida se pede, outra vida concede,
Nossa vida de fato é encontrar mais saídas,
Nossa vida é saber acenar quando há idas,
Nossa vida importante é o que sempre precede...

Nossa vida não quer outra mão, outro braço,
Nossa vida precisa... é de vidas inteiras,
Nossa vida não quer a vivência de um baço...

Nossa vida é viver procurando maneiras,
Nossa vida é ganhar, nem que seja no laço,
Nossa vida no espaço entre os fios das peneiras...



Pois é meus amigos!
Outra vez o amigo de vocês aqui, às voltas com a poesia antiga.

O paralelismo é um recurso das Cantigas Medievais.
Constitui-se na repetição de um verso ou parte dele, no caso, apenas uma parte do primeiro verso foi repetida por todo o soneto, o que dificultou muito mais sua composição: foi preciso manter a semântica, a métrica, ritmo, rimas... o conteúdo afinal.

Confesso que este soneto - a meu ver - é um dos melhores, dentre os cinquenta que publiquei em 2006.

Um abração a todos.

Marcelo

quinta-feira, 19 de março de 2009

Soneto XLI





“Não suporto frescura, inocência incomoda,”

Dedicado à Aparecida Rocha (in memoriam)
E a sua neta impertinente.




Celulite, pelanca, isso é bom, faz-me falta,
Gordurinhas, pneus, mechas brancas são belas,
Quero sempre arranjar uma velha donzela,
Botarei novamente este assunto na pauta...

Não procuro ninfeta empinada, peralta,
Quero ruga com ranço e bastante barbela,
Quero é ser seu avô, sem maiores mazelas,
Não procuro modelo... há magreza, são altas.

Sempre corro se vejo: uma pele esticada,
Bom perfume, pintura e umas roupas da moda,
Mente fraca, noviça, esta sim é mancada!

Não suporto frescura, inocência incomoda,
Não sou pajem, babá, pra noviças sou nada,
Quero só sua avó. E você? Dentre a soda!


Marcelo Finholdt
Prezados amigos! Bom dia!
Após vários pedidos é com prazer que posto este soneto, também publicado no "SONETOS" - Cinquenta sonetos em verso alexandrino, de minha autoria - Dezembro de 2006. Não há muito o que dizer sobre o soneto, visto que o mesmo encarrega-se do fato, falo então das amáveis pessoas a quem dediquei-o.
Aparecida Rocha era uma excelente pessoa e professora. Aparecida vivia nas ruas e tive o privilégio de conhecê-la por volta de 1989, quando residi perto da estação ferroviária em uma das cidades onde estive. Eu tinha apenas dezesseis anos, ela cinquenta e dois, quase bem vividos.
Ensinou-me sobre literatura durante tardes e tardes, sentada comigo na praça, às vezes, por um prato para o almoço, às vezes para uma de suas netas, ou um trocado qualquer para passar o dia. Jamais esquecerei: Capitães da Areia, Dom Casmurro, O Mulato, etc.
Foram vários os livros que lemos, enquanto, para o desgosto de uma de suas netas - "contemporânea" minha - iniciamos um romance! Daí a dedicatória do soneto.
Foram poucos meses, assim como foram os poucos relacionamentos que tive em minha vida, porém de uma intensidade infinda! Sim, infinda! Infinda porque sentimos com a alma. "Todo início jamais acabar-se-á!" A frase acima é uma das que Aparecida gostava de citar. Falecida em 1997 deixou aqui e, tenho certeza, muitas saudades nos corações dos que com ela conviveram.
O HIV talvez a tenha levado para outras esferas existênciais, mas aqui os que a amam, continuam a cultivar as boas sementes que ela semeou! Meu próximo livro será inteiramente em sua homenagem.
Aparecida Rocha foi quem ensinou-me sobre o que realmente vale nesta vida. Uma lição de amor que jamais esqueceremos!
P.S. A foto é apenas ilustrativa e, para divertir também!
"Forte abraço, força sempre!"
Marcelo Finholdt


sábado, 19 de janeiro de 2008

SONETO II






Sonetinho acróstico!


Dedicado à amiga portuguesa
Paula Patrícia Figueiras Barradas.


A afeição é o melhor sentimento que temos,
Pra ser próximo é só ser amigo e consciente,
Avistar a distância é saber, que pra gente,
Um só mundo é pequeno e de longe mantemos...

Leve e intenso contato através de outros meios,
Ah, quem dera se a Terra ostentasse mais terra,
Portugal não seria esse sonho que encerra,
A ansiedade abafada através dos correios!

Testemunhe o soneto onde eu falo o que sinto,
Reative a amizade entoando um bom canto,
Imagine a poesia ao sabor de algo tinto...

Continue a ser, sempre, essa amiga, esse encanto,
Inspirando poesia a um menino distinto,
Através desse amor, que é tão frágil e santo...

Marcelo Finholdt


Paula Patricia!

Dez anos de bate-papo: por telefone, pelos correios ou pela NET mesmo!
Dez anos de amizade, troca e principalmente muita, mas muita cultura mesmo, uma amizade "intelectual" e infinita.

Obrigado PP, por ser assim, tão gentil e humilde, tão divertida e inteligente, obrigado por ajudar-me com o nosso amigo F. Nietszche e outros tantos que já badernam meus pensamentos e idéias.

*Paula Patricia é formada em Filosofia pela Universidade de Coimbra - Portugal, professora e amante das artes, brasileiras também.

Forte abraço, força sempre à todos aí no sul da "Terrinha."

domingo, 5 de novembro de 2006

SONETO XXX



Vou contigo a Ouro Preto, onde existe a saudade...
Sei que Minas Gerais é uma terra querida,
Bem pra lá me dirijo e curando as feridas,
Volto mais animado e retomo a vaidade.


Tenho tempo pra tudo e me esqueço da idade,
Não me importo com tempo e a vaidade é esquecida,
Trago um belo sorriso, é assim que eu vivo a vida,
Dividindo e brindando a total mocidade.


Pães de queijo e café na manhã que anuncia
Uma tarde de frio, umas pilhas de lenha,
Fumaceira no fogo o fogão já fazia.


O calor aumentava, acessei logo a senha,
Resolvi te servir esquecendo a poesia,
Pra depois escrever só de ti... a resenha!


Dedicado a Minas Gerais, e conseqüentemente, ao bom povo Mineiro.
O povo mineiro sempre cativa meu coração.
Quando lá eu me encontro, sinto outro planeta, realmente sinto que estou em casa, nada explica o fato, a não ser a hospitalidade e a originalidade deste povo. Não sou fanático, não tenho apego a determinados lugares, mas, aparentemente sem qualquer explicação definitiva e/ ou concreta, tenho uma imensa satisfação quando lá estou, ou simplesmente quando falo de lá. Creio cegamente que somos todos iguais, somos terráqueos, mas digo sempre:

- Ah! como é bom ser terráqueo em Minas Gerais, juntamente aos nativos do lugar!


Um abraço a todos nós. Terráqueos!
mfinholdt@ig.com.br


quarta-feira, 4 de outubro de 2006

SONETO VIII



Conversar, respirar, conversar, respirar.
Esta é a vida de Aline, a menina da fala,
Conversando, sem ar, nunca Aline se cala,
Respirar, conversar, respirar, conversar...

O que Aline mais sabe é tão bem se expressar,
Soam sinos e Aline a sua úvula estala,
Sempre Aline é oradora e nas festas badala,
Gesticula e transmite o recado ao falar!

Sempre é bom aprender, discutir pensamentos,
Ser, às vezes, Aline ao ousar tantos temas,
Matracar e fazer ecoar bons momentos.

Vê-se Aline com luz, alegria e dilemas,
Animando a conversa ao sabor dos bons ventos,
Bem falando em crescer e enfrentar seus problemas!


Dedicado à Aline Fernanda Marques Oliveira,
uma pessoa e cantora excepcional.

Algumas pessoas só não são consideradas comuns, por algum detalhe, ou diferencial que trazem consigo.
O caso de Aline Fernanda Marques Oliveira é assim. Aline é uma pessoa... parecida com um poeta: vive num mundo todo particular, que nem sempre se relaciona com o mundo coletivo, real, palpável, concreto. Mas há um paradoxo: Aline é muito tagarela, serelepe, também gosta de poesia, adora declamar extensos poemas e... é a cantora mais afinada com quem tive o prazer de estar e cantar junto.
Faladeira, muito feliz, de bem com a vida, Aline é energia pura.

Segue abaixo, um pequenino texto que a mesma escreveu em um dos meus caderninhos de literatura:

“Marcelo: Você acha que é poeta por escrever poemas, mas poeta não é. É um sonhador que apenas coloca nos papéis suas angústias e problemas.
Você é muito mais do que um simples sonhador, além de sonhar e escrever bem, você vê que os sentimentos são sublimes, e que está sonhando alto com um grande amor...
Você é um amigão! Apesar de ser bem saidinho.”


Comentário de Aline Marques - início de 2003


Marcelo Finholdt

sexta-feira, 23 de junho de 2006

SONETOS XI, XII



És charmosa de fato e ofereces mais vista,
Fazes sombra com brilho às demais da cidade,
Gasto versos pra ti que possuis tal vaidade,
Hesitei por demais a te ver como artista!

Impressionas o belo ao inspirar minhas rimas,
Judiaria seria a poesia sem via.
Lembro sempre da rosa à mulher na boemia,
Movimento o violão ao lembrar de outras primas.

Na verdade o que faço é sentir só prazer,
Ora são, ora não, o que importa é o orvalho!
Pois se passo por ti logo sinto o viver...

Quero flores com mel, das abelhas trabalho!
Restam lírios pra nós, pois só falta cozer...
Sinto o corpo dormir, não me esperes, eu falho!


Dedicado à rua Catorze, escrito durante uma das
madrugadas de boemia e seresta sob a égide do céu...


Marcelo Finholdt
mfinholdt@ig.com.br



És de fato elegante e me excitas a vista,
Fazes pose e és destaque por toda a cidade,
Gasto tempo pra ti, dona de tal vaidade,
Hesitei longo tempo a hesitar como artista!


Impressionas por ser assim feita de rimas,
Judiaria seria a magia sem via,
Lembro a casa que é azul, rosas nuas, boemia...
Movimento o verão, vejo as Veras e as Primas!


Na ciranda da vida escolhi ter prazer,
Ora eu sou, ora tu és, entre nós nosso orvalho!
Pois vivemos pra nós, isto sim é o viver...


Quero o fruto da flor que me inspira ao trabalho,
Restam flores que não mais se podem cozer...
Sinto o lírio viver, pois me esperes, não falho!




Dedicado à rua Catorze, escrito durante uma das
madrugadas de boemia e seresta sob a égide do céu...




Marcelo Finholdt
mfinholdt@ig.com.br


Certa vez, em uma das minhas “andarilhanças” pela cidade, notei uma rua especial. Uma rua que conheço desde tenra idade: Rua Catorze, a rua da avó Emília, onde minha irmã e eu almoçavamos Nhoque aos domingos com toda nossa família paterna.

Após o almoço eu ficava no alpendre admirando: a rua sempre limpa, seus sobrados, suas plantas floridas e as casas de arquitetura antiga e cheias de história. Era um encanto. Eu? Eu tinha apenas nove anos.

Certa vez, depois de uma década e meia, já adulto e boêmio, fui lá com uns amigos(as) a fim de nos “apoderarmos” de algumas dúzias de rosas no jardim da casinha azul com o intuito de fazermos serestas para moçoilas da cidade. Eram... as rosas, um dos ingredientes de nossas noites daquela época, juntamente às bebidinhas, o violão, cigarros e muita, muita poesia mesmo.

Nossa casa? Não havia outra, a não ser o asfalto como piso e o céu o forro, o teto de nossa libertinagem. (para não dizer vadiagem)

Um dia, sozinho na madrugada e na ruazinha em questão, fiz este poema. Encostado no carro, a bebidinha ao lado, lírios no painel, violão e aquela solidão de sempre a me acompanhar! Produzi catorze versos em puro “delírio”, versos estes que são os do primeiro soneto.

O segundo, trata-se de um pequenino e imbecil arrependimento por aquelas noitadas de delírio e poesia, por isso a contradizer o primeiro soneto.

Um abraço aos amigos Bardos, assim feito eu, e a todos que possuem sensibilidade para sentir as coisas, que por mais inanimadas que sejam, nos passam toda a sua energia, sua história.
Sintam meus amigos, sintam com o coração! enquanto puderem...



Marcelo Finholdt – 23/06/2006

quarta-feira, 4 de janeiro de 2006

SONETO VI






Capitão é um poeta à procura de Iara.
Lá da proa ele avista a menina de aquário,
Acelera e comanda o mais belo corsário,
E com a bela menina ele então se depara!

Bem à frente ele vê o que se vê cara a cara,

E o mais belo poema aparece ao diário,
A menina não vê de onde ele é originário,
Logo após bem entende e sua mente se aclara,

Pois Iara é serena e tem nome Moreno!

Capitão reconhece o que é belo ao remar,
Vai remando no dia e escrevendo ao sereno...

Capitão é um poeta existente no mar,

Aprecia a beleza e com vinho chileno,
Faz poesia pra Iara a ele mesmo encantar...


Temas Marinhos


Pense em estar cara a cara com Iara Moreno... é mesmo preciso estar para compreender a simplicidade deste soneto, pois o verde que os olhos da menina exprimem, juntamente ao semblante sereno, tranqüilo e muito bonito, um fascínio.

Iara, contralto de um coral que fiz parte, olhos bem verdes, pele clara, cabelos castanhos-escuros. Vestia-se constantemente em cem roupas de cor azul-clara, clarinha... aquilo prendia mais ainda a atenção, mas faltava formatar, identificar o estilo daquela tênue beleza. Faltava algum elemento, faltava algo, algo para fazer vir à tona o que inconscientemente vi.



Veio, enfim, a gota.


Num fim de tarde, horário de verão, “eu estava a navegar” de porteiro de teatro, esperava o início de um dos ensaios do coral que fazíamos parte, quando, num repente, surge um carro branco feito neve.


Era! eram as cores, os olhos. Eram os mares, os céus. Enfim: tudo e nada ao mesmo tempo... era... a ponte. Era simplesmente humano.

Assim, o soneto desenrola-se em alto-mar. Um mar verde, um céu azul, e atrás, atrás desse mar, uma grande gel[ad]eira branca, sendo derretida pelo calor. Frente ao mar: o corsário (a varanda do teatro) e Capitão derretendo-se , apenas... por estar cara a cara com Iara.

Iara Moreno. Uma beleza das águas... estilo, Iemanjá, talvez aquariana...



Agradecimentos a amiga Nadime Igniçõõõõões Capriolli’S, ScapafarpasSsS, Cannelones, Lapis’práellasSsSsSsSs, por, amavelmente, ter apresentado-me ao Sr. ORKUT. D’onde “revi” Iara Moreno, (entre outros maravilhosos seres), após séculos de poesias, sonetos, baratas, notas, prêmios banais, e, porque não: Alguns meros e novos receios e recreios.


Agradecimentos ao amigo PIRATA DO UNIVERSO, Matheus, o cara,

(de Aroeira, óbviamente), pelo incentivo à escrita.

Marcelo Finholdt – Nalgum mês de 20.000

mfinholdt@ig.com.br


terça-feira, 13 de dezembro de 2005

SONETO III




A casinha é laranja e tem brancas janelas,
É um laranja bem forte a ascender todo o astral...
Na varanda há um vazio, um vazio sem igual,
Lá um alguém existiu, com uma face tão bela...


Existiu uma moça amorosa e singela,
Inocente donzela a avançar sem o mal,
Na procura do amor, coisa tão natural,
Deixou logo seu manto ao mostrar quem é ela.


No jardim desta casa, a menina está a ler,
Uns poemas de amor junto a seis margaridas,
Ela espera um poeta anunciar que vai ter,


Uma vida esculpida onde não há ferida.
A menina ainda lê e o poeta é esse ser,
Que faz ela existir, pois também vê a vida!





Existem situações inusitadas e, aparentemente simples, porém de explicação um tanto complexa, espiritual, anímica...
O caso da “casinha laranja” é um exemplo que até poderia passar desapercebido, mas, eu jamais poderia permitir tal fato e, é exatamente por tais fatos existirem que este texto existe, minha poesia, e este blog também. Sempre fui admirador da natureza, por isso, nas cidades, vejo as praças como verdadeiros oásis, sempre meus trajetos são construídos com o propósito, óbvio, de chegar ao destino desejado, mas, também com o intuito de passar por todas as praças possíveis. Calhou certa vez, de eu estar mesmo viciado a passar pela praça da Bandeira, em Barretos – SP, onde, logo ali pela esquina, sito à avenida dezenove, esquina com a rua seis, avistei uma singeleza da arquitetura, uma cor forte, forte... não pela tinta, mas sim pela energia que transmitia aos meus olhos, e conseqüentemente ao meu espírito. Forte cor laranja, janelas, portas e enfeites brancos, arquitetura antiga e a tal energia. Como era bom parar pela sua frente por alguns segundos, e olhar, olhar, olhar e olhar... olhei e jamais vi alguém na “casinha laranja”, que possui uma varanda de aspecto aconchegante, mas muito triste, muito triste mesmo, talvez por eu jamais ter visto alguém ali, com os braços na mureta, ou sentado em suas cadeiras, etc. Fiquei inconformado e passei a passar mais por ali, passei a enxergar uma figura feminina e inocente, talvez uma pré-adolescente ali na varanda. Um dia esbocei o soneto acima, mas a menina continuava a incomodar e eu não sabia de onde isso vinha. Parecia ser uma criança solitária, sem companhia, sem amigos, família... Finalmente, num belo dia, lá pelas redondezas da pracinha e da tal “casinha laranja”, percebi tudo... como estavam aguçados os meus sentidos.
Fiquei impressionado comigo, com minha sensibilidade, e, ao mesmo tempo com minha distração. Percebi simplesmente que: Em frente a casinha laranja há o orfanato “Sagrado Coração de Jesus”, justamente onde ficam abrigadas meninas abandonadas, órfãs. A priori nem sequer percebi, mas, logo após, enxerguei o que havia feito, e nunca mais duvidei da existência da energia poética que habita pessoas, lugares, situações, etc, visto que jamais existiu alguma menina ali, naquela varanda citada no soneto. Não que eu tenha visto.



Um abraço de Marcelo Finholdt.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2005

SONETO VII



Caroline voltou, Caroline e um mistério:
Hesitou e não disse a que vinha... sorriu...
Caroline chorou e em minh'alma buliu,
Futricou, revistou, revirou todo o império.

Caroline deixou todo o clima piério,

Fustigou, provocou, expulsou todo o frio,
Caroline é um mistério a soar feito rio,
Transmutou do planeta um de seus hemisférios.

Caroline sorriu e chorou longamente,

Acendeu toda a luz da casinha modesta,
Cultivou, semeou, adubou as sementes...

Caroline cantou com carinho na festa,

Instigou, cutucou, assanhou docemente,
Fez-se ausente e não disse o porquê da requesta...


Coisas da vida?


Mesmo sem minha permissão Caroline invadia e, infelizmente, descobri agora: ainda invade meu coração. É incrível, mas não consigo estancar o fato que traz-me algum incômodo, perplexidade e uma pequenina indignação...

Ocorre que em se tratando de outras pessoas, sempre consigo barrar tais invasões com muita facilidade... mas nunca, para isso, uso escudos quaisquer, para isso, sempre me transformo em peneira, e logo a energia invasora passa através de mim. Mas Caroline não... Como pode? Acho incrível, Caroline não passa pela peneira, fica ali, grudada, espalhada por entre seus fios, que por mais esparsos que sejam, e são mesmo muito esparsos, nada conseguem fazer, a não ser reter a energia invasora. Quando digo invasora, não digo que seja malévola, e sim algo atrevido, serelepe, talvez até inocente, ou até mesmo natural.
Caroline consegue de fato acender a luz do meu coração modesto, e, logo após, faz-se ausente.



Coisas da vida, da poesia também...

Marcelo Finholdt



terça-feira, 6 de dezembro de 2005

SONETO XXXIX







Dedicado a Andréia Formenton Mesquita.*


Foi um fruto do outono eclodindo na vida...

Foi um gesto de vida, inspirou versarias,
Foi a luz de um escuro e o escuro de um dia,
Foi à vida sem medo e encontrou a partida.

Foi de vez para a vida, iniciou-se na ida...

Foi um gesto de vida esbanjando poesia,
Foi de fato feliz fomentando alegria,
Foi um belo sorriso, uma fé incontida.

Foi o fim do começo esbanjando beleza,

Foi sutil e vistosa, era flor: Azaléia!
Foi o oposto do não, foi o sim de Teresa.

Foi então o resumo, era mesmo uma Déia!

Foi tão simples, porém demonstrou sutileza,
Foi, vem sendo, será sempre assim: Só... Andréia.



Não conheci Andréia mas, trago aqui comigo outra sensação. Ocorreu-me grande simpatia, quase um "rapport", assim que avistei sua lápide. Havia algo ao redor que pedia... algo. Eu já sabia o que era... era novamente poesia, poesia pedindo para nascer, mas... desta vez pensei estar indo longe demais, afinal: poesia para falecidos? Por quê? Para quê? Entendi que jamais precisei de motivo qualquer para escrever, muito pelo contrário, sempre precisei de excelentes, raros motivos e, literalmente "pari" o soneto acima.


Abraços, Marcelo Finholdt - 12/06/2005
mfinholdt@ig.com.br