SONETOS - Quatro anos, cinquenta sonetos.

Escrevi setenta sonetos em quatro anos, eliminei certa parte e, em 2006, publiquei cinquenta.
Vários leitores, curiosos e outros indagaram-me a respeito da feitura dos sonetos e também dos motivos que levaram-me a produzi-los.
Este espaço pré-existia ao lançamento do livro e tornou-se então o lugar ideal para a satisfação dos leitores mais afoitos.
Há uma possibilidade gigantesca de eu voltar a produzir neste formato encantador e em desuso. Justamente este: o desuso, é o aspecto que mais encanta-me na literatura.

Forte abraço.

Marcelo Finholdt - março de 2010

quinta-feira, 19 de março de 2009

Soneto XLI





“Não suporto frescura, inocência incomoda,”

Dedicado à Aparecida Rocha (in memoriam)
E a sua neta impertinente.




Celulite, pelanca, isso é bom, faz-me falta,
Gordurinhas, pneus, mechas brancas são belas,
Quero sempre arranjar uma velha donzela,
Botarei novamente este assunto na pauta...

Não procuro ninfeta empinada, peralta,
Quero ruga com ranço e bastante barbela,
Quero é ser seu avô, sem maiores mazelas,
Não procuro modelo... há magreza, são altas.

Sempre corro se vejo: uma pele esticada,
Bom perfume, pintura e umas roupas da moda,
Mente fraca, noviça, esta sim é mancada!

Não suporto frescura, inocência incomoda,
Não sou pajem, babá, pra noviças sou nada,
Quero só sua avó. E você? Dentre a soda!


Marcelo Finholdt
Prezados amigos! Bom dia!
Após vários pedidos é com prazer que posto este soneto, também publicado no "SONETOS" - Cinquenta sonetos em verso alexandrino, de minha autoria - Dezembro de 2006. Não há muito o que dizer sobre o soneto, visto que o mesmo encarrega-se do fato, falo então das amáveis pessoas a quem dediquei-o.
Aparecida Rocha era uma excelente pessoa e professora. Aparecida vivia nas ruas e tive o privilégio de conhecê-la por volta de 1989, quando residi perto da estação ferroviária em uma das cidades onde estive. Eu tinha apenas dezesseis anos, ela cinquenta e dois, quase bem vividos.
Ensinou-me sobre literatura durante tardes e tardes, sentada comigo na praça, às vezes, por um prato para o almoço, às vezes para uma de suas netas, ou um trocado qualquer para passar o dia. Jamais esquecerei: Capitães da Areia, Dom Casmurro, O Mulato, etc.
Foram vários os livros que lemos, enquanto, para o desgosto de uma de suas netas - "contemporânea" minha - iniciamos um romance! Daí a dedicatória do soneto.
Foram poucos meses, assim como foram os poucos relacionamentos que tive em minha vida, porém de uma intensidade infinda! Sim, infinda! Infinda porque sentimos com a alma. "Todo início jamais acabar-se-á!" A frase acima é uma das que Aparecida gostava de citar. Falecida em 1997 deixou aqui e, tenho certeza, muitas saudades nos corações dos que com ela conviveram.
O HIV talvez a tenha levado para outras esferas existênciais, mas aqui os que a amam, continuam a cultivar as boas sementes que ela semeou! Meu próximo livro será inteiramente em sua homenagem.
Aparecida Rocha foi quem ensinou-me sobre o que realmente vale nesta vida. Uma lição de amor que jamais esqueceremos!
P.S. A foto é apenas ilustrativa e, para divertir também!
"Forte abraço, força sempre!"
Marcelo Finholdt


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